segunda-feira, 12 de março de 2012

Dez conselhos de Bento XVI aos jovens


1º - Conversar com Deus 
"Algum de vós poderia, talvez, identificar-se com a descrição que Edith Stein fez da sua própria adolescência, ela, que viveu depois no Carmelo de Colônia: 'Tinha perdido, consciente e deliberadamente, o costume de rezar'. Durante estes dias podereis recuperar a experiência vibrante da oração como diálogo com Deus, porque sabemos que nos ama e, a quem, por sua vez, queremos amar". 


2º - Contar-lhe as penas e alegrias 
"Abri o vosso coração a Deus. Deixe-vos surpreender por Cristo. Dai-lhe o 'direito de vos falar' durante estes dias. Abri as portas da vossa liberdade ao seu amor misericordioso. Apresentai as vossas alegrias e as vossas penas a Cristo, deixando que ele ilumine, com a Sua luz, a vossa mente e toque com a sua graça o vosso coração". 


3º - Não desconfiar de Cristo 
"Queridos jovens, a felicidade que buscais, a felicidade que tendes o direito de saborear tem um nome, um rosto: o de Jesus de Nazaré, oculto na Eucaristia. Só ele dá plenitude de vida à humanidade. Dizei, com Maria, o vosso 'sim' ao Deus que quer entregar-se a vós. Repito-vos, hoje, o que disse no princípio de meu pontificado: 'Quem deixa entrar Cristo na sua vida não perde nada, nada, absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. Não! Só com esta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só com esta amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. Só com esta amizade experimentamos o que é belo e o que nos liberta'. Estai plenamente convencidos: Cristo não tira nada do que há de formoso e grande em vós, mas leva tudo à perfeição para a glória de Deus, a felicidade dos homens e a salvação do mundo". 


4º - Estar alegres: querer ser santos 
"Para além das vocações de consagração especial, está a vocação própria de todo o batizado: também é esta uma vocação que aponta para um 'alto grau' da vida cristã ordinária, expressa na santidade. Quando encontramos Jesus e acolhemos o seu Evangelho, a vida muda e somos impelidos a comunicar aos outros a experiência própria. A Igreja necessita de santos. Todos estamos chamados à santidade, e só os santos podem renovar a humanidade. Convido-vos a que vos esforceis nestes dias por servir sem reservas a Cristo, custe o que custar. O encontro com Jesus Cristo vos permitirá apreciar interiormente a alegria da sua presença viva e vivificante, para testemunhá-la depois no vosso ambiente". 



5º - Deus: tema de conversa com os amigos 
"São tantos os nossos companheiros que ainda não conhecem o amor de Deus, ou procuram encher o coração com sucedâneos insignificantes. Portanto, é urgente ser testemunhos do amor que se contempla em Cristo. Queridos jovens, a Igreja necessita de autênticos testemunhos para a nova evangelização: homens e mulheres cuja vida tenha sido transformada pelo encontro com Jesus; homens e mulheres capazes de comunicar esta experiência aos outros". 


6º - Ir à Missa no Domingo 
“Não vos deixeis dissuadir de participar na Eucaristia dominical e ajudai também os outros a descobri-la. Certamente, para que dela emane a alegria que necessitamos, devemos aprender a compreendê-la cada vez mais profundamente, devemos aprender a amá-la. Comprometamos-nos com isso, vale a pena! Descubramos a íntima riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza: não somos os que fazemos uma festa para nós, mas, pelo contrário, é o próprio Deus vivo que prepara uma festa para nós. Com o amor à Eucaristia, redescobrireis, também, o sacramento da Reconciliação, no qual a bondade misericordiosa de Deus permite sempre que a nossa vida comece novamente.” 


7º - Demonstrar que Deus não é triste 
“Quem descobriu Cristo deve levar os outros para Ele. Uma grande alegria não se pode guardar para si mesmo. É necessário transmiti-la. Em numerosas partes do mundo existe hoje um estranho esquecimento de Deus. Parece que tudo anda igualmente sem Ele. Mas, ao mesmo tempo, existe também um sentimento de frustração, de insatisfação de tudo e de todos. Dá vontade de exclamar: Não é possível que a vida seja assim! Verdadeiramente não.” 


8º - Conhecer a fé 
“Ajudai os homens a descobrir a verdadeira estrela que nos indica o caminho: Jesus Cristo. Tratemos, nós mesmos, de conhecê-lo cada vez melhor para poder conduzir também os outros, de modo convincente, a Ele. Por isso é tão importante o amor à Sagrada Escritura e, em conseqüência, conhecer a fé da Igreja que nos mostra o sentido da Escritura.” 


9º - Ajudar: ser útil 
“Se pensarmos e vivermos inseridos na comunhão com Cristo, os nossos olhos se abrem. Não nos conformaremos mais em viver preocupados somente conosco mesmo, mas veremos como e onde somos necessários. Vivendo e atuando assim dar-nos-emos conta rapidamente que é muito mais belo ser úteis e estar à disposição dos outros do que preocupar-nos somente com as comodidades que nos são oferecidas. Eu sei que vós, como jovens, aspirais a coisas grandes, que quereis comprometer-vos com um mundo melhor. Demonstrai-o aos homens, demonstrai-o ao mundo, que espera exatamente este testemunho dos discípulos de Jesus Cristo. Um mundo que, sobretudo mediante o vosso amor, poderá descobrir a estrela que seguimos como crentes.” 


10º - Ler a Bíblia
"O segredo para ter um 'coração que entenda' é edificar um coração capaz de escutar. Isto é possível meditando sem cessar a palavra de Deus e permanecendo enraizados nela, mediante o esforço de conhecê-la sempre melhor. Queridos jovens, exorto-vos a adquirir intimidade com a Bíblia, a tê-la à mão, para que seja para vós como uma bússola que indica o caminho a seguir. Lendo-a, aprendereis a conhecer Cristo. São Jerônimo observa a este respeito: 'O desconhecimento das Escrituras é o desconhecimento de Cristo'" 


Em resumo:
“Construir a vida sobre Cristo, acolhendo com alegria a palavra e pondo em prática a doutrina: eis aqui, jovens do terceiro milênio, o que deve ser o vosso programa! É urgente que surja uma nova geração de apóstolos enraizados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir o Evangelho por toda a parte. Isto é o que o Senhor vos pede, a isto vos convida a Igreja, isto é o que o mundo - ainda que não saiba - espera de vós! E se Jesus vos chama, não tenhais medo de responder-lhe com generosidade, especialmente quando vos propõe seguí-lo na vida consagrada ou na vida sacerdotal. Não tenhais medo; confiai n'Ele e não ficareis decepcionados.” 
Fonte: www.comunidadebeatitudes.com

As Riquezas da Juventude




Introdução: Os jovens de hoje, como são, o que buscam? 

Indagado por causa da atenção afetuosa que dedica aos jovens, e sobre a razão da esperança com a qual a Igreja olha para a juventude, o Papa João Paulo II define a juventude como "um tempo concedido pela Providência divina a cada ser humano como tarefa", quer dizer, um tempo decisivo devido ter desabrochado nele capacidades que antes não conhecia. É o tempo de crescimento da sua humanidade para que ela atinja a plenitude na fase adulta. Este crescimento se apresenta especialmente nas seguintes áreas: Sexual; Afetiva; Corpórea; Vocacional; profissional; o Papa fala também do anseio que, neste período de sua vida, cada ser humano tem por uma resposta às suas interrogações fundamentais, e por um projeto concreto para começar a construir sua vida. O jovem, em estado normal, tem interrogações: questiona o mundo, os outros e a si mesmo. Além disto, está em busca de um ideal para investir sua vida. É na juventude que surgem os riscos de investir a vida num ideal fantasioso, falso, que não trará para ele a plenitude para a qual foi criado. O jovem neste momento corre grandes riscos: o de colocar todas as suas potências, por exemplo, no dinheiro, ou na fama, ou no prazer, ou no intelecto, vivendo aparentemente ideais lícitos, mas que lhe farão perder os valores mais preciosos, e no fim da vida ela constatar que amarrou seu arado na estrela errada; e o que pior, o risco de em nome de falsos ideais cometer pecados graves, de modo que mesmo após a conversão, eles se tornem uma pedra de tropeço a lhe atormentar e obstacular sua vida espiritual. Felizes são os Santos que oportunamente fizeram a opção fundamental pelo bem Supremo e ancoraram todos seus ideais neste bem. ( Podemos aqui mesmo pegar de exemplos: de Sto Inácio, Sta Teresa, e S. Francisco ) 

"O que é a juventude? não é apenas um período da vida que corresponde a uma determinada faixa etária, mas é, no contexto, um tempo concedido pela Providência a cada ser humano, sendo-lhe conferido como tarefa. Nesse período ele procura, como o jovem do Evangelho, a resposta às suas interrogações fundamentais: não somente o sentido da vida, mas também um projeto concreto para começar a construir sua vida. É exatamente esta a característica mais essencial da juventude. (...) 

Se em cada período de sua vida o ser humano deseja afirmar-se, encontrar o amor, na juventude o deseja de uma forma ainda mais intensa. O desejo de afirmação, em todo caso, não deve ser entendido como uma legitimação de tudo, sem exceções. (...) A juventude é precisamente o período da personalização da vida humana. É também o período da comunhão. Os jovens, tanto os rapazes como também as moças, sabem da obrigação de viver para os outros e com os outros, sabem que a sua vida tem sentido na medida em que se torna um dom gratuito para o próximo. Aí têm origem todas as vocações: tanto as sacerdotais ou religiosas, como também as vocações ao matrimônio e à família. Também a chamada para o matrimônio é uma vocação, um dom de Deus (...) É preciso preparar os jovens para o matrimônio, é preciso ensinar-lhes o amor. O amor não é uma coisa que se aprende, e todavia não há uma coisa tão necessária a ser aprendida (...) Na verdade, o amor é lindo. Os jovens, afinal, buscam sempre a beleza no amor, desejando que o seu amor seja lindo. se cedem às fraquezas, seguindo os modelos de comportamento que bem poderia ser classificados como um "escândalo do mundo contemporâneo" ( e são modelos lamentavelmente muito difundidos), no fundo do coração desejam um amor lindo e puro. Isso vale tanto para os rapazes como também para as moças. Sabem, afinal, que ninguém pode conceder-lhes um amor assim, a não ser Deus. E, portanto, estão dispostos a seguir a Cristo, sem olhar para os sacrifícios que isso pode implicar". (idem, pp 123 a 125) 

De fato, o amor especial que o Santo Padre dedica aos jovens o levou ao fundo dos seus corações, alí onde talvez nem eles mesmos se conheçam. Muitos são os jovens que não sabem quem são, de onde vêm para onde vão. Outros perderam cedo o rumo da sua vida. Foram levados pelos modismos, pelas tentações, pela própria razão. Isto porque há coisas sãs que podem nos fazer perder completamente o rumo de nossas vidas. É preciso compreendermos que cada ser humano criado tem em si uma missão. Há um plano original, autêntico, só para sua vida, embora este plano seja ligado aos outros. Muitos são os que buscam a morte das mais diversas formas, e outros, na verdade, desejariam nem ter nascido. No entanto, sua vida é irrepetível, única, imprescindível. E a juventude é o tempo certo para descobrir isto: o valor da própria vida! E mais: o que é preciso fazer dela! 

Isto é muito sério. Parece requerer uma infinidade de cálculos. Parece que exigir de nós uma busca trabalhosa. No entanto, o que todos necessitam é encontrar Jesus Cristo, e não somente encontrá-lo, mas decidir-se a seguí-lo. Só Cristo sabe dar as verdadeiras respostas às perguntas humanas, e apontar o verdadeiro caminho para a vida. E o que é ainda mais importante é que Ele, não apenas aponta, mas anda junto de nós e nos capacita a trilhar o caminho da vida verdadeira. 

1. Quem é o jovem? 

Certamente íntimo de Jesus, o Santo Padre tem uma visão muito bela da juventude. Ele a vê na sua dignidade, naquilo que apresenta mais claramente a sua imagem e semelhança de Deus; e a vê, principalmente, nas suas possibilidades. Partilhando sobre a juventude do seu tempo e da sua pátria, ele diz que as jovens gerações se formaram em dolorosas experiências de guerras, e outros perigos constantes. E estas experiências liberavam neles os traços de um grande heroísmo: 

"É só lembrar o levante de Varsóvia em 1944. O ímpeto desesperado dos meus contemporâneos, que não se pouparam. Jogaram a sua vida jovem no ardor da fogueira. Eles queriam demonstrar que estavam amadurecendo no confronto com a grande e difícil herança que receberam. Também eu pertenço àquela geração, penso que o heroísmo dos meus companheiros ajudou-me a definir minha própria vocação (...) Exatamente naquele período de terrível desprezo pelo homem, quando o preço da vida humana foi aviltado como talvez jamais acontecera antes, precisamente naquele momento, a vida de cada indivíduo tornou-se valiosa, adquirindo o valor de um dom gratuito " 

O Papa viveu sua juventude num contexto bem difícil, de muitas lutas para sobreviver. No entanto, ele diz que foram justamente as dificuldades que geraram nele a compreensão do valor da vida e o estimularam a se comprometer com grandes ideais, até que chegou à descoberta da sua vocação, da sua missão no mundo. Há dentro de cada ser humano criado, uma imensa capacidade de perseguir ideais, porque ele é um ser em evolução. Ele caminha para uma maturidade que precisa atingir para ser realizado. E são justamente as dificuldades que o impulsionam a colaborar com este amadurecimento. Nenhum homem é como frutas que se coloca em estufas para amadurecer. Ao contrário, somos instrumentos e colaboradores com o nosso amadurecimento, e com a história da nossa vida. O homem constrói a história e ela o provoca a isto. Provocado pelas dificuldades do seu tempo histórico, foi que o Papa colaborou com o desenvolvimento da sua pessoa, para chegar ao alvo para o qual havia nascido. 

"Os jovens de hoje certamente crescem em um contexto diferente: não carregam dentro de si as experiências da Segunda Guerra Mundial. Além disso, muitos dentre eles não conheceram - ou não lembram - as lutas contra o sistema comunista, contra o estado totalitário. Vivem num clima de liberdade, conquistada para eles por outros, e cederam sobremaneira à civilização do consumo. São estes os parâmetros, obviamente percebidos, da situação atual." 

Hoje, o desenvolvimento tecnológico, científico, trouxe para nós muitas facilidades. Vivemos a era da globalização, onde todos tem acesso a todas as coisas com muita facilidade e até são instigados pela propaganda a fazerem coisas que nem estavam pensando em fazer. Os convite chegam até nós em massa, de todos os lados e com muita insistência, parece que batem infinitas vezes na mesma tecla. Fica difícil de recusar, porque não dá tempo para formarmos as nossas próprias convicções Tudo se tornou muito fácil de se conseguir, basta um "celular", um cartão de crédito, ou até nem é preciso nada disto, porque as máquinas fazem tudo por nós. O descartável faz parte do cotidiano de nossas vidas e as empresas contratam técnicos para que eles fiquem pensando a melhor forma de facilitar as nossas vidas. A empresa que fabricar produtos que mais facilitem a vida do homem são aquelas que tem sucesso garantido. O jovem hoje não se sente atraído para a doação de sua vida porque não é exercitado no doar-se, no lutar pôr alguma coisa, pois tudo gira em torno dele. Tudo é feito para facilitar a sua vida, ele não precisa se esforçar muito, nem sequer exercitar sua criatividade. Tudo foi conquistado para eles por outros. 

Acoplada a isto surge a civilização do consumo. Tudo é comprado, para ser usado e depois lançado fora. Tudo é consumível e descartável. Esta mentalidade acaba sendo levada para os relacionamentos interpessoais. As pessoas acabam também sendo tidas como consumíveis e descartáveis. Assim, se isto vai acontecer, para que os esforços, as lutas, os ideais? 

"A saúde mental está baseada em certo grau de tensão entre aquilo que já se alcançou e aquilo que ainda deverá acontecer. Esta tensão é indispensável ao bem estar mental. O ser humano precisa de busca e luta por um objetivo que valha a pena (...)O vazio existencial é um fenômeno muito difundido no Século XX. As tradições, que serviam de apoio para seu comportamento, atualmente vêm diminuindo com grande rapidez. Nenhum instinto lhe diz o que deve fazer.(...) Às vezes ele não sabe sequer o que deseja fazer. Em vez disto, ele deseja fazer o que os outros fazem; ou ele faz o que outras pessoas querem que ele faça. O vazio existencial se manifesta principalmente num estado de tédio. Frankl exemplifica com a "neurose dominical", uma espécie de depressão que acomete pessoas que se dão conta da falta de conteúdo das suas vidas quando passa o corre- corre da semana, e aparece o vazio que esteve escondido todo o tempo dentro dele. Às vezes se procura compensar este estado por uma VONTADE DE PODE, DE DINHEIRO, OU DE PRAZER. Qual o sentido da sua vida hoje? Cada qual tem uma missão específica no mundo. Cada um precisa executar uma tarefa concreta. Nisto a pessoa não pode ser substituída nem repetida 

" As experiências dos educadores e dos pastores confirmam, hoje não menos do que ontem, o idealismo característico desta idade, mesmo quando atualmente isso é expresso, talvez, sobretudo em forma de crítica, ao passo que no passado se traduzia mais simplesmente no compromisso. Em geral, pode-se afirmar que as novas gerações agora crescem prevalentemente num clima da nova era positivista (cujo estímulo nas escolhas é a opinião da maioria: todos fazem, também eu posso fazer), ao passo que, por exemplo, na Polônia, quando eu era garoto, dominavam as tradições românticas (cheias de ideais autênticos, pelos quais se era capaz de fazer grandes sacrifícios). Os jovens com os quais entrei em contato logo após minha ordenação sacerdotal, cresceram precisamente nesse clima. Na Igreja e no Evangelho enxergavam um ponto de referência onde concentrar o esforço interior para formar a própria vida de uma maneira que tivesse sentido. Lembro ainda os colóquios com aqueles jovens, que exprimiam precisamente desse modo sua relação com a fé " ( Cruzando o Limiar da Esperança, pp. 122 e 123). 

2. Qual a riqueza do jovem? 

O período da juventude é o momento de uma descoberta particularmente intensa do "eu" humano e das e capacidades a ele conjuntas. É um período onde há ou deveria haver um grande auto conhecimento, com muitas descobertas novas. Antes, na infância, sua visão de si mesmo ainda era totalmente atrelada à opinião dos outros. Na adolescência, recém atravessada, oscilava freqüentemente entre a dependência da opinião alheia e a total independência. Reagia a tudo, criticava, era capaz de assumir posturas que nem desejava, somente para agredir, para "chocar", para libertar-se. Ora tinha de si mesmo uma opinião acima da realidade, ora se via abaixo do que de fato é. Ora só tinha qualidades, então o mundo e os outros lhe pareciam insignificantes, tolos. Ora tinha de si mesmo uma opinião tão abaixo da realidade, que era capaz de odiar a si mesmo: seu corpo, sua voz, seu nome, seu rosto...". Agora, deverá entrar num equilíbrio neste sentido. Gradual e sucessivamente vai se manifestando a visão interior da personalidade em desenvolvimento de um jovem ou de uma jovem, aquela específica e, em certo sentido, única e irrepetível potencialidade de uma humanidade concreta, na qual está inscrito todo o projeto de vida diante de si. Esta riqueza deve ser descoberta e vivida ativamente, o que consiste em programar, escolher, prever e assumir as primeiras decisões de maneira pessoal, que terão importância para o futuro. 

A riqueza da juventude está no seu ser pessoa, que começa a ser conhecido e manifestado ao mundo. Mas para que isto aconteça, é necessário um impulso, este mesmo que existe em todo ser humano, este mesmo que nos foi dado pelo Criador, como uma marca impressa no nosso ser mais íntimo. Este anseio, no jovem se manifesta primeiramente pela descoberta de si mesmo. Apresentam-se diante dele mesmo capacidades que ele não julgava possuir, e isto o surpreende. O jovem encontra então em si mesmo um desejo de criar, de executar. Até então o curso da sua vida parecia preso a outros, não se julgava capaz de construir a sua própria história. Diante desta descoberta, o jovem pode voltar-se para o Criador, ou pode fechar-se em si mesmo, nas capacidades que porventura julgue possuir por si mesmo. 

Criados por Deus, infinitamente perfeito, feliz, e rico de todos os bens, levamos em nós mesmos a Sua marca: a marca do Criador. No Batismo, esta marca é impressa de modo indelével no ser mais profundo de cada um, alí onde estar a essência do seu SER. Cada ser humano criado recebe em sí como que uma semente a ser desenvolvida. Esta semente contém tudo o que ele há de SER e MANIFESTAR ao mundo. Esta manifestação do ser é a contribuição única que cada um pode dar ao mundo, e ao mesmo tempo é a única única forma de encontrar a realização plena. Uma pessoa realizada é aquela que consegue, ao longo da sua vida tornar-se aquilo que ela é, a imagem de Jesus. Todo seu fazer, só será útil a si e aos outros quando estiver de acordo com o que ela é por dentro. Deus criou cada um com um projeto específico, com um ser específico. 

O Batismo 

"Pelo Batismo, Deus colocou em nós uma semente divina, única e irrepetível: é um germe que todo homem encontra em si mesmo e em sua história pessoal, em tudo o que faz parte de sua vida tão cheia de vestígios do seu amor criador. Graças a esse amor, a pessoa se descobre única e irrepetível, e descobre também a si mesma e a sua missão"(Amedeu Cencini) . 

Deus faz uma revelação de si mesmo ao homem na pessoa do próprio homem. E revela o homem ao próprio homem, ou seja "A identidade do homem está escondida em Deus". A revelação de Deus faz com que ele descubra seu próprio EU e seu EU IDEAL. Ele revela o que eu sou agora, com as minhas necessidades e potencialidades, mas revela também o que eu devo chegar a ser. É importante lembrar que o que nós somos agora já é uma grande riqueza. Tudo o que eu vou chegar a ser é uma multiplicação, um desenvolvimento desta riqueza que eu já sou hoje! Não é o que possuímos que constitui nossa riqueza, mas o que somos no mais profundo da nossa identidade atual e ideal. 

Quando o Papa afirma que a juventude insere uma grande riqueza, ele não esquece de levar em conta aqueles jovens cuja vida é sobrecarregada dos mais diversos sofrimentos: carências físicas, deficiências, limitações, situação familiar ou social difícil. Ele mesmo lança a indagação: "poder-se-á dizer, em tais casos, que esta juventude é uma riqueza interior? Ele mesmo responde: Os verdadeiros valores encontram sua autenticidade unicamente em Deus. Ele é o revelador das verdadeiras riquezas de cada um, que se encontra naquilo que somos e naquilo que somos chamados a ser, naquele traço único de semelhança com Deus que constiui a essência verdadeira do seu ser como pessoa. É por isto que o profeta pode dizer: "Senhor, trazemos o teu nome! "(Jer 14,19). 

De tudo isto, podemos compreender que a riqueza dos jovens não se encontra no que o mundo tem enfatizado: na aparência física, no vestir, nas qualidades estéticas, no cuidado exagerado com a própria saúde, nem sequer na ausência de qualquer traço de envelhecimento, seja físico ou mental; existe ainda outro engano ainda mais sutil: pensar que a riqueza da juventude consiste nos talentos e aptidões de realizar determinadas tarefas. A riqueza da juventude também não consiste nisto, nem sequer ainda na própria retidão de comportamento ou perfeição moral, mas naquilo que se é ou naquilo que se é chamado a ser. 

3. Cristo fala com os jovens 

Existem várias passagens no Evangelho, em que Jesus de Nazaré encontra os jovens, sendo particularmente sugestivas as duas ressurreições: a da filha de Jairo (Lc 8,49-56) e a do filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17). Mas a que encontramos um diálogo rico em conteúdo é a passagem sobre o jovem rico (Mc 10,17-19). Estas Palavras contém uma verdade profunda sobre o homem em geral e, segundo João Paulo II na sua Carta aos jovens e às jovens do mundo, por ocasião do Ano Internacional da Juventude (1985) contem mensagem especial para a juventude. O Santo Padre, na sua carta, faz uma reflexão sobre esta passagem do Evangelho, convidando os jovens para , a partir dela, desenvolver seu próprio diálogo com Cristo, um diálogo fundamental e essencial para eles. A reflexão de João Paulo II sobre o encontro de Jesus com o Jovem Rico desenvolve-se dentro dos seguintes pontos: 

"O homem do Evangelho encontrava-se exatamente nesta fase da existência, como se pode deduzir das perguntas que ele faz no diálogo com Jesus. Por isso também as palavras da parte final sobre os seus muitos bens, isto é sobre a riqueza, podem ser entendidas justamente nesse sentido: Elas designam a riqueza que é a própria juventude". 

Tudo isto que nós vimos acima deve se refletir nas mais diversas escolhas que ao longo da nossa vida temos de fazer. O que afastou o jovem rico de Jesus foram as falsas riquezas. 

O jovem e a busca da verdade...



“É próprio da condição humana e, particularmente, da juventude buscar o Absoluto, o sentido e a plenitude da existência. Amados jovens, não vos contenteis com nada menos do que os mais altos ideais! Não vos deixeis desanimar por aqueles que, desiludidos da vida, se tornaram surdos aos anseios mais profundos e autênticos do seu coração. Tendes razão para não vos resignardes com diversões insípidas, modas passageiras e projetos redutivos. Se mantiverdes com ardor os vossos anelos pelos Senhor, sabereis evitar a mediocridade e o conformismo, tão espalhados na nossa sociedade”. Isto foi dito pelo Papa João Paulo II aos jovens um ano antes da sua páscoa, em 2004, durante a preparação para a XVII Jornada Mundial da Juventude e, como podemos ver, são palavras fortes que convidam e, ao mesmo tempo, impelem à busca da verdade autêntica.

O anseio pela verdade é algo intrínseco ao ser humano. Desde sempre ele a procura de várias formas e em diversos lugares, mas nem sempre alcança aquela verdade plena que se há de manifestar na última revelação de Deus: “Agora, vemos em espelho e de modo confuso; mas então, será face a face. Agora, o meu conhecimento é limitado; então, conhecerei como sou conhecido” (1Cor 13,12).

No mundo atual, onde tantos homens e mulheres pensam e vivem como se Deus não existisse, torna-se difícil para o jovem encontrar com segurança o caminho da verdade; por isso deixa-se atrair facilmente por formas irracionais de filosofias que desvirtuam o sentido primeiro e último da vida: Deus. O grande mal que se abate sobre os jovens não é a droga, mas a falta de sentido da vida; sem este, o tempo que deveria ser recheado de descobertas fantásticas torna-se um peso, onde nada é satisfatório e tudo é vazio...

Mas você, que é jovem, não pode desanimar diante dessa realidade; é preciso coragem para deixar que o Evangelho seja o condutor das suas opções e de toda a sua vida! “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, a fim de conhecerdes a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável e o que é perfeito” (Rm 12,2).

“A filosofia moderna possui, sem dúvida, o grande mérito de ter concentrado a sua atenção sobre o homem. (...) Ela deu os seus frutos nos diversos âmbitos do conhecimento, favorecendo o progresso da cultura e da história. (...) A antropologia, a lógica, as ciências da natureza, a história, a linguística, de algum modo todo o universo do saber foi abarcado. Todavia, os resultados positivos alcançados não devem levar a transcurar o fato de que essa mesma razão, porque ocupada a investigar de maneira unilateral o homem como objeto, parece ter-se esquecido de que este é sempre chamado a voltar-se também para uma realidade que o transcende. Foi assim que a razão, sob o peso de tanto saber, em vez de exprimir melhor a tensão para a verdade, curvou-se sobre si mesma, tornando-se incapaz, com o passar do tempo, de levantar o olhar para o alto e de ousar atingir a verdade do ser” (Fé e Razão, 5).

Em toda a história da humanidade, a filosofia foi dando respostas necessárias ao homem, mas ao desviar-se do centro, que é Deus, deixou de ser ponte e passou a ser um muro que somente com o auxílio da fé é possível transpor. Mas quando alguém se determina a encontrar a verdade, faz, sem dúvida, a maravilhosa experiência da liberdade, “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

“Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14) – evoca o desejo de verdade e a sede de alcançar a plenitude do conhecimento que estão gravados no coração de todo homem. É necessário que o jovem tenha um encontro pessoal com Cristo, “Caminho, Verdade e Vida” (Jo 14,6), com o Absoluto, para que seus critérios de avaliação e opções não sejam dominados pela técnica ou pelas paixões desordenadas.

Buscar a verdade é buscar a Cristo! E na vida do jovem esta busca perpassa a escolha da profissão, a descoberta do amor humano, o anseio de fazer algo grandioso, a luta para firmar as próprias convicções.

“Na realidade, é Jesus quem buscais quando sonhais com a felicidade; é Ele quem vos espera, quando nada do que encontrais vos satisfaz; Ele é a beleza que tanto vos atrai; é Ele quem vos provoca com aquela sede de radicalidade que não vos deixa ceder a compromissos; é Ele quem vos impele a depor as máscaras que tornam a vida falsa; é Ele quem vos lê no coração as decisões mais verdadeiras que outros quereriam sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande, a vontade de seguir um ideal, a recusa de vos deixardes submergir pela mediocridade, a coragem de vos empenhardes, em humildade e perseverança, no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna” (João Paulo II).

Permita-se, portanto, ser atraído por aquilo que conduz à verdade; que não corrompe os sentidos. Muitas vezes a verdade vai atuar em nós como um remédio forte lançado sobre um ferimento grave: dói, mas cura! “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Não é alienação persistir na busca da verdade e deixar que sua vida seja conduzida por Cristo e para Ele; alienação é viver de forma contrária à própria essência, e sua essência é Deus: Amor e Verdade. Sem a verdade, não é possível encontrar a verdadeira felicidade!


Fonte: Josefa Alves - Missionária da Comunidade Católica Shalom
Revista Shalom Maná